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Resenha: O Nome do Vento – Crônicas do Matador do Rei: Primeiro Dia – Patrick Rothfuss

Editora: Editora Arqueiro
Autor: Patrick Rothfuss
ISBN: 9788599296493
Edição: 1
Número de páginas: 655
Acabamento: Brochura
Classificação EDS:  100 de 100 pontos

“Este é o típico primeiro romance que muitos autores sonham em escrever. O mundo da fantasia ganhou uma nova estrela.” – Publishers Weekly
Ninguém sabe ao certo quem é o herói ou o vilão desse fascinante universo criado por Patrick Rothfuss. Na realidade, essas duas figuras se concentram em Kote, um homem enigmático que se esconde sob a identidade de proprietário da hospedaria Marco do Percurso.
Da infância numa trupe de artistas itinerantes, passando pelos anos vividos numa cidade hostil e pelo esforço para ingressar na escola de magia, O nome do vento acompanha a trajetória de Kote e as duas forças que movem sua vida: o desejo de aprender o mistério por trás da arte de nomear as coisas e a necessidade de reunir informações sobre o Chandriano – os lendários demônios que assassinaram sua família no passado.
Quando esses seres do mal reaparecem na cidade, um cronista suspeita de que o misterioso Kote seja o personagem principal de diversas histórias que rondam a região e decide aproximar-se dele para descobrir a verdade.
Pouco a pouco, a história de Kote vai sendo revelada, assim como sua multifacetada personalidade – notório mago, esmerado ladrão, amante viril, herói salvador, músico magistral, assassino infame.
Nesta provocante narrativa, o leitor é transportado para um mundo fantástico, repleto de mitos e seres fabulosos, heróis e vilões, ladrões e trovadores, amor e ódio, paixão e vingança.
Mais do que a trama bem construída e os personagens cativantes, o que torna O nome do vento uma obra tão especial – que levou Patrick Rothfuss ao topo da lista de mais vendidos do The New York Times – é sua capacidade de encantar leitores de todas as idades.

Minhas impressões

Bom, vou logo avisar que tem spoiler nessa resenha. O livro é muito bom pra fazer um resuminho mal feito sobre ele *-*. Eu sempre tento não dar muito spoiler, mas não vou conseguir evitar muito nessa.

Tenho lido ultimamente muitos livros de literatura fantástica e posso afirmar a grandiosidade do universo criado nesse livro. O autor nos leva a um mundo que não conseguimos identificar se é num passado distante ou num futuro longínquo, mas isso não é um demérito, uma vez que cada parte desse universo é explicado durante a história. Conforme a sinopse oficial a história é baseada no personagem enigmático Kote.

Desde pequeno Kote se mostrou excepcionalmente inteligente. Aprendendo com agilidade tudo que lhe era proposto pelo seu primeiro mestre. Em uma reviravolta na sua história se viu obrigado a viver por conta própria e isso lhe trouxe diversas complicações.

A maior faculdade que nossa mente possui é, talvez, a capacidade de lidar com a dor… Primeiro existe a porta do sono. O sono nos fornece uma retirada do mundo e de todo o sofrimento que há nele… Segundo existe a porta do esquecimento. Algumas feridas são profundas demais para cicatrizar, ou profunda demais para cicatrizar depressa… Terceiro existe a porta da loucura. há momentos em que a mente recebe um golpe tão violento que se esconde atrás da insanidade… Por último existe a porta da morte. O último recurso…

Com o tempo Kote foi adquirindo uma sabedoria que só a vida em sofrimento pode dar. O tempo também lhe trouxe aos poucos lembranças que a muito ele quis esquecer, mas também trouxe uma vontade que ele tinha desde criança: entrar na Universidade. Essa universidade não era uma qualquer. Era ali que ele conseguiria sanar suas milhares de perguntas e chegar um pouco mais perto da verdade que tanto lhe atormentava.

Pra conseguir ingressar nessa universidade era necessário um teste de conhecimentos para assim, definir o valor a ser pago para começar a estudar. Kote, mostrando seu brilhantismo, consegue entrar na faculdade e passar seu primeiro bimestre feliz depois de muito tempo. Porém para o próximo bimestre ele precisaria desembolsar 3 talentos, 9 Iotas e 7 Ferro-gusa. 8 iotas a mais do que ele tinha. Não havia nada, nem ninguém que ele pudesse apelar.

…Como dizia meu pai, “há dois modos certeiros de perder um amigo: um é pedir empréstimos, outro é concedê-los…

Apelando para meios não convencionais ele continua cursando a faculdade e consegue em uma loja de penhores um alaúde. Seus dedos se agitam como se tivessem memória ao tocar o alaúde e assim ele começa sua poesia a cada nota.

A música é uma amante orgulhosa e temperamental. Recebendo o tempo e a atenção que merece, ela é sua. Desdenhada, chega o dia em que você a chama e ela não responde. Por isso comecei a dormir menos, para lhe dar o tempo de que ela precisava…

Enquanto tocava em uma taberna, para ganhar a gaita de prata, ele reencontrou a mulher mais linda que já havia conhecido. (A descrição dela é de tirar o fôlego, diga-se de passagem)

Seu sorriso era capaz de fazer o coração de um homem parar. Os lábios eram vermelhos. Não daquele vermelho pintado vulgar que muitas mulheres acreditam torna-las desejáveis. Seus lábios estavam sempre vermelhos, da manhã á noite. Como se, minutos antes de a vermos, ela tivesse comido amoras doces ou bebido sangue do coração. Onde quer que estivesse, ela era o centro de tudo… Não me entenda mal. Não era espalhafatosa nem fútil. Olhamos para o fogo porque ele lampeja, porque brilha… O que nos atrai para o fogo é o calor que sentimos ao chegar perto dele. O mesmo se aplicava a ela.

Onde só havia uma busca desenfreada para descobrir respostas e segredos, dá lugar a um romance inocente. Não esqueçamos que Kote era um jovenzinho de 15, 16 anos.

– E assim, fomos barcos mal iluminados na noite…- citei.
– ‘…cruzando-se de perto, mas sem saber um do outro’ – completou Denna.

– Eu tenho você – ela interrompeu, sonhadora. Ouvi o sorriso morno e sonolento em sua voz, como o de uma criança aninhada na cama. – Quer ser o meu príncipe encantado de olhos sombrios e me proteger dos orcs? Cantar para mim? Arrebatar-me para as árvores mais altas… – E sua voz extinguiu-se no nada.
– Quero – respondi. Mas, por seu peso em meu braços, percebi que ela finalmente havia adormecido.

Kote parece ter um imã para problemas e logo se vê enrolado em mais uma encrenca. Mesmo vitorioso ele não tenta jamais levar a glória pelo que fez e sai da cidade de volta para a universidade como um desconhecido ainda. Rumores rondavam seu nome, mas nada que fizesse-o conhecido ou temido.

Na história ocorre algo muito comum em uma universidade/escola que não havia citado. Kote tinha um inimigo de escola, Ambrose (cuspo no chão… Brincadeira rs). Pra explicar facilmente quem era Ambrose, lembrem-se do estúpido Malfoy do Harry Potter (sim, tenho raiva dele. Se encontrasse o ator na rua provavelmente bateria nele rs). Ambrose é um garoto mimado que se vê ameaçado pela inteligência de um garoto mais novo e pobre.
Em uma de suas tentativas de desestabilizar Kote e causar-lhe algum problema a ponto de ser expulso da universidade, ele leva Kote a um nível tão extremo de irritação que algo totalmente inesperado acontece com Kote. Mesmo sem saber, Ambrose acabou ajudando Kote.

– Seis chicotadas e expulsão – disse o Reitor…
– Algum professor objeta a esta medida? – perguntou o Reitor…
– Eu objeto. Aquela voz só podia ser a de Elodin…

– Proponho que Kvothe seja elevado à categoria de Re’lar.
– Todos a favor? – Todas as mãos se ergueram num só movimento, exceto a de Hemme…
– O quê?! – berrou Ambrose, olhando em volta…

Kote consegue finalmente ter uma resposta das muitas que ele buscava desde criança. Um nome.

A história volta novamente para a hospedaria e seus acontecimentos nada convencionais. Kvothe ou Kote, como preferir, decide encerrar o primeiro dia de narração de sua história, para dar tempo ao escriba de organizar suas ideias.

Enfim. Como já citei algumas vezes, o livro te insere em um universo fantástico. O autor conseguiu preencher cada detalhe desse universo sem precisar de cinco livros gigantescos que rodam, rodam e não saem do lugar (sim, estou me referindo às crônicas de gelo e fogo). O drama, misturado com ação, uma pitada pequena de comédia e uma parte ínfima de romance, formam um tempero excepcional e embriaga quem está lendo. Em algumas partes do livro eu ri, me regozijei com o triunfo de Kote, xinguei o Ambrose diversas vezes (sério), me emocionei com a tristeza de Kote e suspirei com seu amor.
Sinceramente posso colocar esse livro na mesma prateleira que A torre negra, do S. King. Recomendo efusivamente comprar esse livro e que venha o segundo volume o/

Agradeço especialmente a Arqueiro por me presentear com este livro. Não existe presente melhor pra mim. Não é um livro e sim um universo!

Photo by Artem Sapegin on Unsplash