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Resenha: Os Julgamentos de Nuremberg – Paul Roland

Editora: M Books
Autor: Paul Roland
ISBN: 9788576802228
Número de páginas: 208
Acabamento: Brochura
Classificação EDS: 100 de 100
Compre: Amazon

Essa é a história dos julgamentos de Nuremberg o mais importante processo criminal já realizado, que criou o princípio da responsabilidade individual de acordo com as normas do direito internacional e que encerrou a Segunda Guerra Mundial, dando início à reconstrução da Europa. Os nazistas eram um grupo de criminosos, assassinos, desequilibrados, sádicos e burocratas medíocres unidos apenas por sua filosofia de ódio e pelo amor à espoliação de bens alheios. À medida que fortaleciam seu poder, ma is monstruosos eram seus crimes.

Minhas impressões

Há anos que Os Julgamentos de Nuremberg estava na minha lista, mas pelo valor e outros que estavam na frente, demorei a ler. Demorei também a terminar de ler, mais ou menos seis meses. É um assunto super pesado e o livro retrata um julgamento de mais de dez meses.

A omissão da culpa desses homens significaria o mesmo de dizer que não houve guerra, nem assassinatos ou crimes.

Por sorte o autor conseguiu traduzir vem o “juridiquês” para uma linguagem mais simples e ainda assim impactante. Pela quantidade de citações do livro que coloquei nessa resenha, dá pra ter uma noção de como me impactou.

Uma noite acordamos com gritos aterrorizantes. No dia seguinte, os homens que trabalhavam no Sonderkommando – o Kommando do gás – contaram que no dia anterior o suprimento de gás vazara e, então, eles jogaram crianças vivas nos fornos.

Os oficiais da SS diziam que os prisioneiros precisavam sofrer antes de morrer, porque eles ficavam muito unidos e era difícil separá-los (depois de mortos).

Venho há bastante tempo estudando a Segunda Grande Guerra, porém esse livro, junto com Depois de Auschwitz e Necrópole, trouxeram o peso da “realidade” dos acontecimentos, ajudando a entender um pouco melhor a mente dos autores de coisas tão absurdas. Creio que nem o melhor autor de ficção do mundo teria tanta criatividade para escrever a barbárie da segunda guerra.

Surpreendentemente, todos os acusados eram bem educados e tinham total consciência das ordens que cumpriam. Havia oito advogados, um professor universitário, um cantor lírico e um colecionador de arte; no entanto, todos foram capazes de cometer os crimes mais brutais da época moderna.

Imagino que assim como eu, você possa se questionar o porquê de um julgamento para decidir o que aconteceria com os responsáveis não só pelo genocídio, como pela guerra. De certa forma parece óbvio que todos os envolvidos são culpados e mereciam a prisão ou morte, porém não era tão simples assim.

Certa vez, Goering vangloriou-se que algum dia haveria estátuas dele erguidas em cada cidade e metrópole da Alemanha. Se os julgamento de Nuremberg não houvessem acontecido, é provável que sua previsão tivesse se realizado…

O autor descreve bem a importância do julgamento, principalmente em uma época em que nada do tipo já havia sido feito. Existiam tratados entre países na época, mas nunca um julgamento internacional do porte de Nuremberg havia sido feito. Fora isso, o julgamento abriu jurisprudência para qualquer futuros abusos internacionais.

Speer respondeu que era uma característica do povo alemão reagir instintivamente à autoridade, real ou imaginária.

Mas Goering insistia em seu ponto de vista e não se convenceria do contrário. “Opinião ou não, as pessoas podem sempre ser persuadidas a acreditar no líderes. É muito fácil. Basta dizer que estão sendo atacadas e denunciar os pacifistas pela falta de patriotismo, além de mostrar o perigo que ameaça o país. Essa estratégia funciona em qualquer país.”

Além do aspecto legal, havia o psicológico. Era necessário mostrar a todo o mundo que todos, absolutamente todos, estão abaixo da lei. Claro que falar isso no Brasil parece piada, mas de fato, ninguém está acima dela. Demora (muito em nosso caso), mas uma hora a pessoa é punida.
Ainda no aspecto psicológico, existia a necessidade de mostrar para as pessoas que ainda simpatizavam com o nazismo, as atrocidades que a ditadura de Hitler foi responsável.

Em um mundo onde o relativismo é a nova religião, onde o bem e o mal são considerados conceitos obsoletos e onde a noção de certo e errado é vaga e subjetiva, Nuremberg ajudou a definir qual seria a conduta aceitável ou não no auge da violência da guerra.

Foram meses de preparação para montar o local de julgamento, decidir os juízes, os papéis do promotores, mas ironicamente, devido à organização alemã com documentos, a acusação teve pouquíssimo trabalho para encontrar provas e motivos para acusar os réus. Enquanto a defesa levou muito mais tempo para montar sua estratégia.

Acredito que é muito simples explicar esses assassinatos se pensarmos que essa ordem tinha o objetivo não só de garantir a segurança, como também o de assegurar uma segurança permanente; por este motivo, as crianças quando se tornassem adultas, sobretudo por serem filhos de pais que haviam sido assassinados, representariam um perigo não menor do que o de seus pais – Otto Ohlendorf

Enfim. O livro é uma parte importantíssima para montar o quebra-cabeça sobre o nazismo. É também importantíssimo para mostrar que o absurdo é real, para mostrar o quão baixo um ser humano pode ir tanto para o mal, quanto para sobreviver. Quiçá um livro desse fosse item obrigatório na educação, mostrando a realidade e não os relatos superficiais de livros de história. Quiçá fosse obrigatório para não termos discussões se o genocídio aconteceu mesmo ou não, ou se nazismo era de direita ou esquerda… (só pra esclarecer, nazismo por definição é de direita. Em entrevista para o jornal em 1932, Hitler não se considerava nem esquerda, nem direita, mas por definição histórica inegavelmente era de direita).

Espero que essa execução seja o último ato da tragédia da Segunda Guerra Mundial, e espero que a sabedoria desse desastre inspire os povos a procurarem o entendimento entre as nações e que a paz no mundo por fim seja alcançada. – Jodl

Recomendo sim o livro e que seja lido com calma, para compreender o todo e absorver tudo que ele representa.

Aparentemente, ninguém na Alemanha havia sido nazista. Hitler e Goering invadiram a Polônia por seu livre-arbítrio, ao passo que Goebbels e Himmler dominaram uma nação inteira com o poder de suas personalidades. A mentira era tão doentia como a verdade transparente.

Até a próxima.