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Resenha: Ninguém nasce herói – Eric Novello

Editora: Seguinte
Autor: Eric Novello
ISBN: 9788555340420
Edição: 1
Número de páginas: 384
Acabamento: Brochura
Classificação EDS: 100 de 100 pontos
Compre: Amazon

Num futuro em que o Brasil é liderado por um fundamentalista religioso, o Escolhido, o simples ato de distribuir livros na rua é visto como rebeldia. Esse foi o jeito que Chuvisco encontrou para resistir e tentar mudar a sua realidade, um pouquinho que seja: ele e os amigos entregam exemplares proibidos pelo governo a quem passa pela praça Roosevelt, no centro de São Paulo, sempre atentos para o caso de algum policial aparecer. Outro perigo que precisam enfrentar enquanto tentam viver sua juventude são as milícias urbanas, como a Guarda Branca: seus integrantes perseguem diversas minorias, incentivados pelo governo. É esse grupo que Chuvisco encontra espancando um garoto nos arredores da rua Augusta. A situação obriga o jovem a agir como um verdadeiro super-herói para tentar ajudá-lo — e esse é só o começo. Aos poucos, Chuvisco percebe que terá de fazer mais do que apenas distribuir livros se quiser mudar seu futuro e o do país

Minhas impressões

Não poderia deixar essa resenha para o próxima semana, os outros livros que estavam agendados que me perdoem.

Antes de mais nada gostaria de falar do autor. Eric Novello (o sobrenome soa mais como Novéllo) é autor de cinco livros e mais alguns contos, além de tradutor. O conheci por acaso em uma bienal quando peguei um exemplar de Exorcismos, amores e uma dose de blues por achar a capa linda. Ele apareceu para apresentar o livro e se apresentar, mesmo com um leve spoiler gostei do livro e levei. Pela resenha que você pode ver aqui, dá pra ver que gostei bastante.

Quem não entende que é responsável pelos próprios atos, pelos bons e pelos ruins, é capaz de tudo.

Desde então acompanho o autor (as vezes fico preocupado de estar perseguindo), pelas redes sociais. Essa é uma das características mais cativantes dele, pois está sempre ativo nas redes e disposto a conversar =) Ah sim, outro ponto que me fez gostar bastante de suas obras, é a relação que ele faz entre obra e música, tanto que seus dois últimos livros tem playlist dedicadas.

Vamos ao livro Ninguém Nasce Herói. Pra quem acompanha o Eric a expectativa foi altíssima, pois de certa forma vimos o processo criativo e como isso afetava o autor. Pra mim isso foi uma experiência única.

Meus anos de terapia me ensinaram três coisas: primeiro, tenho uma tendência a tentar controlar situações que não estão sob meu controle; segundo, eu faria qualquer coisa pelos meus amigos, qualquer coisa mesmo; terceiro, minha relação com a realidade é ligeiramente diferente da mantida pelo restante das pessoas.

Como a própria sinopse do livro diz, num futuro (que pode ser visto como uma previsão ou uma distopia, depende do ponto de vista), o Brasil passa a ser liderado por fundamentalistas que basicamente acabam com todas as liberdades dos cidadãos. Imagina a época da lei seca nos EUA e soma uns oitenta por cento dos anos em que os Nazistas dominaram a Alemanha.

Após algum tempo no poder o Escolhido resolve lançar um “Pacto de Convivência”, de forma que o povo possa ter mais “liberdade”. É nesse ponto que conhecemos o nosso personagem principal: Chuvisco.

É uma bolha nosso mundo perfeito. Pessoas diferente e iguais ao mesmo tempo. Que falam de filmes, música, relacionamento e da falta deles, de sonhos loucos, política, viagens e profissões. Que discordam e não se matam por isso. Um talento que a muitos parece perdido.

Junto com seus amigos, Chuvisco tenta de alguma forma lutar contra os absurdos fundamentalistas que foram impostos no país, mas de uma forma pacífica. Ele começa a distribuir livros que foram proibidos na praça Roosvelt como uma forma de protesto. Porém logo ele percebe que só isso não basta.

Grupos milicianos “puristas” surgiram junto com o Escolhido, representando uma ameaça a qualquer um que discorde das ideias de quem está no Governo, e aí meus queridos amigos, a “treta” começa.

Como eu explicaria nosso comodismo ao Junior, a pessoas agredidas todo santo dia com olhares tortos, xingamentos e pontapés?

Vou parar de falar do enredo em si para não revelar nada e comentar sobre a experiência de leitura.

De uma forma muito sutil o autor consegue apresentar um cenário atual regado com pontos de “ficção”. Ficção entre aspas, pois o enredo é tão próximo da realidade que ficamos nos perguntando se o livro é uma distopia ou se é uma premonição. Assim como no primeiro livro somos levado a um mundo onde diversidade é parte natural da vida (como realmente deveria ser).

Tudo bem, todo mundo tem um preconceito escondido. É só prestar atenção para poder decidir como lidar com ele.

O fato do autor usar como cenário a cidade de São Paulo deixa tudo muito mais real, mais próximo (pelo menos pra quem mora aqui). Quando ele descreve a cena de Chuvisco numa cafeteria eu consigo até saber de qual ele está falando!

As senhas do wi-fi e da porta do banheiro aparecem no rodapé da nota fiscal. Com o notebook aberto, digito a sequência e me conecto à rede.

Só quero fazer um adendo sobre os parágrafos a seguir, pois por ser hétero, branco e cisgênero, posso não saber o que estou falando 😉

Como comentei num email enviado ao autor, eu consegui de fato entender a importância da representatividade. Entender o motivo da luta das minorias para terem participação em livros, filmes, novelas, etc. Aprendi com este livro a luta diária que uma pessoa do grupo LGBT ou de outras minorias, passa para poder ser ela mesma ou acreditar no que ela acredita. Entendendo isso espero poder me tornar uma pessoa melhor, um cidadão mais participativo.

Ninguém quer sentir medo ao andar na rua. Ninguém quer ser escorraçado, agredido. Ninguém quer sair de casa sem a certeza de que vai voltar só porque pensa ou age diferente.

Enfim. O livro é realmente excelente. A trama é muito bem escrita. O autor consegue mostrar para o leitor que o mundo distópico que ele criou não é tão diferente assim do que tem acontecido na vida real. É essa forma sutil que mais choca, pois você percebe o que há muito você não percebia: que o quadro da desigualdade é muito maior. O livro é tão fluído que você não larga ele até ter terminado, ou então quando você tem uma leve parada cardíaca quando leu algum trecho e precisa de um tempo pra voltar a ler.

Ainda não sei disso, mas nunca mais vou vê-lo.

falei escrevi demais. Recomendo muito o livro, mesmo. E pra ajudar você a ter a oportunidade de ler, sortearei dois exemplares =) é só participar abaixo, bem simples.

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Até a próxima.