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Resenha: Trinta e Poucos, Crônicas – Antônio Prata

Editora: Companhia das Letras
Autor: Antônio Prata
ISBN: 9788535927689
Edição: 1
Número de páginas: 232
Acabamento: Brochura
Classificação EDS: 100 de 100 pontos
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Mais que qualquer escritor em atividade, Antonio Prata é cultor do gênero -consagrado por gigantes do porte de Rubem Braga, Paulo Mendes Campos, Fernando Sabino e Nelson Rodrigues – que fincou raízes por aqui: a crônica.
Pode ser um par de meias, uma semente de mexerica, uma noite maldormida, a compra de um par de óculos, a tentativa de fazer exercícios abdominais. Quanto mais trivial o ponto de partida, mais cheio de sabor é o texto, mais surpreendente é a capacidade de extrair sentido e lirismo da aparente banalidade.

Minhas impressões

O que mais me encanta ao ler uma crônica é aquela sensação de proximidade com a história contada e a falsa ilusão de que qualquer um pode escrever, bastando apenas pegar a caneta ou algum outro suporte e deixar fluir a memória contando a cena engraçada que presenciamos dentro do transporte coletivo ou algum questionamento existencial.

Mistério #91: Como as pessoas fazem pra criar filhos e, ao mesmo tempo, trabalhar? Tolstói teve treze rebentos e Guerra e Paz tem 2536 páginas (aposto que Tolstói não era o encarregado pelo banho na casa dele).

Trinta e Poucos é um livro de crônicas lançado recentemente por Antônio Prata e trata-se de uma obra elaborada a partir de uma coletânea de textos escolhidos pelo autor entre as muitas publicadas no jornal Folha de São Paulo.
Prata é autor da nova geração e o frescor, ironia fina, perspicácia e humor são pontos forte de sua escrita que aproxima o leitor num diálogo silencioso e honesto. É um livro ótimo, leve, divertido e com algumas provocações reflexivas sobre o modo como levamos a vida e estamos sensíveis ao que acontece a nossa volta.

Numa situação normal eu me sentiria culpado, mas Copa não é, nem de longe, uma situação normal. Copa é uma espécie de salvo-conduto pra vagabundagem. Os almoços que durariam quarenta minutos levam cento e cinco (mais acréscimos), o cara com quem você teria uma reunião fica gripadíssimo justo na hora de Holanda X Espanha, os garçons passam um mês se escondendo atrás de colunas, de costas pros clientes e de frente pra televisão.

Em algumas páginas a identificação, apesar dele falar subjetivamente e com características realmente pessoais, é surpreendente porque descortina e compartilha acontecimentos aos quais estamos acostumados a viver e vão desde indecisões no relacionamento amoroso, situações no trabalho, futebol e seguem para filosofia tanto a de botequim quanto a dos grandes mestres.

Em janeiro há sol e sal, projetos, expectativas no ar. De fevereiro e do Carnaval, nem se fala. (Se o mundo entrasse em guerra pelos meses do ano, eu pegaria em armas pra ajudar nosso país a conquistar fevereiro.) Março é um janeiro redivivo – agora vai! São lançados livros, filmes, discos e programas de TV; a gente trabalha com vontade, se matricula na academia, olha em volta curioso pra saber o que o presente nos reserva.

O bacana do título é a inevitável parada sobre o significado da idade dos “inta”, o período em que se é jovem, mas nem tanto assim e as dúvidas são inevitáveis. Pondera que é uma idade em que começamos a colocar a vida na balança e notar certa alternância entre voltar no tempo, mudar tudo ou simplesmente aceitar o que se tem, diverte-se com a curiosidade de que é o momento da existência em que se costuma esquecer a idade exata que se tem.

As 78 crônicas selecionadas são de leitura leve e rápida, acaba rapidinho e ficamos com aquela sensação de “quero mais”. É um livro excelente pelo conteúdo e indicado tanto para leitores ávidos quanto para os que estão flertando com o universo leitor. Vale muito!