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Resenha: O amante de lady Chatterley – D. H. Lawrence
Editora: Martin & Claret
Autor: D. H. Lawrence
ASIN: 9788563560094
Edição: 1
Número de páginas: 379
Acabamento: Brochura
Classificação EDS: 100 de 100 pontos
Compre: Amazon
Poucos meses depois de seu casamento, Constance Chatterley, uma garota criada numa família burguesa e liberal, vê seu marido partir rumo à guerra. O homem que ela recebe de volta está paralisado da cintura para baixo, e eles se recolhem na vasta propriedade rural dos Chatterley. Inteiramente devotado à sua carreira literária e depois aos negócios da família, Clifford vai aos poucos se distanciando da mulher. Isolada, Constance encontra companhia no guarda-caças Oliver Mellors, um ex-soldado que resolveu viver no isolamento após sucessivos fracassos amorosos. Último romance do autor, O amante de lady Chatterley foi banido em seu lançamento, em 1928, e só ganhou sua primeira edição oficial na Inglaterra em 1960, quando a editora Penguin enfrentou um processo de obscenidade para defender o livro. Àquela altura, já não espantava mais os leitores o uso de ‘palavras inapropriadas’ e as descrições vivas e detalhadas dos encontros sexuais de Constance Chatterley e Oliver Mellors. O que sobressaía era a força literária de Lawrence e a capacidade de capturar uma sociedade em transição. |
Minhas impressões
A primeira vez que ouvi falar de “O Amante de Lady Chatterley” foi em um dos episódios da série Mad Man onde um exemplar do livro, visivelmente amassado e surrado, passava sorrateiro e entre risos pelas mãos das recepcionistas e secretárias do famoso escritório de publicidade.
Considerando a época e toda a questão de gênero envolvidos no seriado, ficou fácil a indicação de que o livro teria forte conotação sexual. O fato é que pouco tempo depois encontrei a obra e mergulhei em sua leitura que é realmente muito envolvente.
Narrado em terceira pessoa conta a história de Constance Chatterley, jovem a frente de seu tempo, emancipada e cheia de ideias, que logo após o casamento vê o marido ser convocado para a guerra e retornar paraplégico. A situação faz com que o casal mude para um lugar bastante ermo e bucólico, descrito com perfeição pelo autor, próximo apenas da mineradora da família do marido o que acaba provocando profunda inquietação na personagem central.
Indistintamente, ela inferiu uma das leis maiores da alma humana: quando a alma emocional recebe um choque violento e o corpo não morre, parece que a alma se recupera com a recuperação do corpo. Parece. Na realidade o mecanismo do hábito predomina. Mas lentamente, lentamente, a ferida da alma começa a latejar, como uma contusão que só lentamente aprofundasse a sua dor terrível até absorver toda a psique. E quando se tem confiança na recuperação e se esquece a ferida, as sequelas insuportáveis se manifestam sem dó.
A vida segue, Lady Chatterley reflete sobre sua situação e alterna momentos de desencantamento com rompantes questionadores sobre subverter aquilo que é imposto. Encontramos situações de muita cumplicidade intelectual entre o casal que simplesmente inexistem quando Clifford recebe os amigos. Nessas ocasiões a mulher é apenas um bonito ornamento fazendo bordado no canto da sala.
– Eles não me odeiam. E não cometa um erro: no sentido em que você usa a palavra, eles não são homens. Eles são animais que você não compreende e nunca compreenderá. Não imponha suas ilusões aos outros. As massas sempre foram iguais e sempre serão iguais. Os escravos de Nero eram extremamente semelhantes aos nossos mineiros ou aos operários da fábrica da Ford.
A relação do casal é mantida de maneira amistosa. O marido submerso na busca por reconhecimento em sua escrita afasta-se da mulher e não existe afeto ou proximidade física o que é duramente sentido pela jovem esposa.
Connie, como é chamada a Lady, vê-se numa obrigação rotineira de retroalimentar as reflexões e escritas filosóficas do marido e mantê-lo sob cuidados quase que de uma enfermeira, esquecendo-se de si, de seus desejos e acaba adoecendo.
A trama segue até que Clifford sugere que a mulher procure um amante para que sua fortuna tenha um herdeiro. Ela fica intrigada, reluta e após um tempo passa a cogitar o fato. É nesse ponto que entra na história um funcionário da família que voltou recentemente da guerra, Oliver Mellors, e que provocará grandes transformações em Connie.
Os tabus começam a ser questionados, o erotismo chega a um ponto alto, o relacionamento tórrido entre os dois é interessante pela tensão provocada entre sentimento, diferenças sociais e a questão sexual que é narrada com detalhes que deixaria leitores dos diversos Tons de Cinza bastante interessados.
Ela teria jurado que a mulher morreria de vergonha. Pelo contrário, morreu a vergonha. A vergonha que é o medo: o medo orgânico profundo, o velho, o ancestral medo físico que espreita nas origens físicas de todos nós, e que só pode ser afugentado pelo fogo sensual, foi enfim expulso e devastado pela caçada fálica do homem.
A dificuldade da personagem central, ainda que de origem e experiência modernista, de romper, questionar e impor-se diante do estabelecido e socialmente aceitável é angustiante para os dias de hoje, mas o final surpreende pela leveza e possibilidade.
A polêmica da publicação, última obra do autor, vai desde a troca da datilógrafa que se recusou a escrever a imoralidade que o autor ditava, passando por versões alternativas até a censura que durou incríveis trinta e dois anos enquanto o livro circulava, às escondidas, como obra pornográfica.
Leitura interessante e que vale uma espiada! Até!