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Resenha: MAUS – A História de um Sobrevivente – Art Spiegelman

Editora: Companhia das Letras
Autor: Art Spiegelman
ASIN: 9788535906288
Edição: 1
Número de páginas: 296
Acabamento: Brochura
Classificação EDS: 100 de 100 pontos
Compre: Amazon

Maus (‘rato’, em alemão) é a história de Vladek Spiegelman, judeu polonês que sobreviveu ao campo de concentração de Auschwitz, narrada por ele próprio ao filho Art. O livro é considerado um clássico contemporâneo das histórias em quadrinhos. Foi publicado em duas partes, a primeira em 1986 e a segunda em 1991. No ano seguinte, o livro ganhou o prestigioso Prêmio Pulitzer de literatura.
A obra é um sucesso estrondoso de público e de crítica. Desde que foi lançada, tem sido objeto de estudos e análises de especialistas de diversas áreas – história, literatura, artes e psicologia. Em nova tradução, o livro é agora relançado com as duas partes reunidas num só volume.

Minhas impressões

Sim é um livro sobre o Holocausto, MAUS não é mais do mesmo em relação ao tema, é uma obra importante porque aborda sinceramente, pela via das questões familiares dos sobreviventes, as heranças de um período tão tenebroso. É crucial que ainda mais seja escrito, filmado, cantado e divulgado não importando a mídia ou a linguagem para que não esqueçamos e para que nunca mais se repita algo do tipo na História da Humanidade.

A obra é autobiográfica e vai permear a história do próprio autor, Art Spiegelman, enquanto filho de um pai, Vladek Spiegelman, judeu polonês que sobreviveu aos mais diferentes períodos e sofrimentos impostos pela Segunda Guerra Mundial.

História em Quadrinhos de primeira qualidade com traços característicos do artista, desenhado e escrito em preto e branco, a partir do relato do pai é uma opção interessante pela marcação das personagens: os nazistas são desenhados como gatos, os poloneses aparecem retratados como porcos, os norte americanos como cachorros e os judeus como ratos numa representação criativa dos papeis de cada um naquele momento e em uma inspiração na cadeia alimentar.

A história da Guerra é narrada de pai para filho que registra tudo em um gravador nas sessões de entrevista que, como não poderia deixa de ser, esbarram em feridas, cicatrizes, situações que beiram a comicidade tamanha tragédia embutida. Art entra em crise em vários momentos pensando na legitimidade do que está fazendo, na exposição de um pai que sobreviveu à sua maneira e que ficou com sequelas muito sérias que dificultaram sua vida no momento pós-guerra, marcas que magoam e chegam a envergonhar.

“(Suspiro) É muito esquisito tentar reconstruir uma realidade pior do que os meus sonhos mais pavorosos. E ainda por cima em Quadrinhos! Acho que estou dando um passo maior do que as pernas, talvez seja melhor deixar pra lá.

Da triste odisséia vivida é muito bonito o modo como o pai procurou desesperadamente garantir a sobrevivência da mulher, existe ali uma história de amor singular e que merece destaque. Anja era “cuidada” de alguma maneira e estimulada a ter alguma esperança ou a simplesmente continuar vivendo.

Meu pai a encontrou ao chegar do trabalho…os pulsos cortados e um vidro de comprimidos vazios.

Não foram poucos os momentos em que interrompi a leitura para desfazer o nó na garganta diante do registro do pai pelas atrocidades do período e das estratégias para continuar vivendo e do filho em compreender e exercitar a compaixão para conviver com alguém com tanto resquício de sofrimento.

O livro foi publicado em duas fases, a primeira em 1986 e a segunda em 1991. A edição lida foi a lançada pela Cia das Letras – Quadrinhos na CIA – já em volume único e com o selo de obra vencedora do prêmio Pulitzer.

Tanta coisa eu nunca vou conseguir entender nem visualizar. É que a realidade é complexa demais para ser contada em quadrinhos.

MAUS é um livro forte, ácido, triste, emocionante e que merece uma leitura generosa de suas páginas. É comovente sem ser piegas, trata de um tema pesado que, assim como a escravidão em terras brasileiras, gostaríamos de esquecer mas que temos a obrigação de revisitar, compartilhar e problematizar com as novas gerações.

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