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Resenha: Depois de Auschwitz – Eva Schloss

Editora: Universo dos Livros
Autor: Eva Schloss
ISBN: 9788580411386
Edição: 1
Número de páginas: 304
Acabamento: Brochura
Compre: Amazon
Classificação EDS:  100 de 100 pontos

Em seu aniversário de quinze anos, Eva é enviada para Auschwitz. Sua sobrevivência depende da sorte, da sua própria determinação e do amor de sua mãe, Fritzi. Quando Auschwitz é extinto, mãe e filha iniciam a longa jornada de volta para casa. Elas procuram desesperadamente pelo pai e pelo irmão de Eva, de quem haviam se separado. A notícia veio alguns meses depois: tragicamente, os dois foram mortos.
Este é um depoimento honesto e doloroso de uma pessoa que sobreviveu ao Holocausto. As lembranças e descrições de Eva são sensíveis e vívidas, e seu relato traz o horror para tão perto quanto poderia estar. Mas também traz a luta de Eva para viver carregando o peso de seu terrível passado, ao mesmo tempo em que inspira e motiva pessoas com sua mensagem de perseverança e de respeito ao próximo – e ainda dá continuidade ao trabalho de seu padrasto Otto, pai de Anne Frank, garantindo que o legado de Anne nunca seja esquecido.

Minhas impressões

Bom, demorei um pouco pra fazer essa resenha. Foi difícil esquecer um pouco dele e conseguir juntar ideias suficientes pra montar uma resenha concisa sem entrar em muitas discussões sobre o assunto Nazismo.

Pois bem, tenho lido ao longo da minha muita coisa relacionada ao Nazismo (muita mesmo), desde biografias dos envolvidos, relatos de testemunhas oculares e por aí vai, mas nunca li algo tão sincero, tão realista, tão próximo. É assustadora a forma como os fatos são apresentados nesse livro. O modo tão “intimista” de uma garota que passa por todos os tormentos do Holocausto.

Logo na primeira semana sob o comando nazista, tudo aquilo que as pessoas temiam foi confirmado. Os nazistas receberam permissão para provocar tumultos, espancar os judeus e saquear as propriedades deles.

“De repente os agradáveis amigos da minha infância se foram. Perguntava-me agora quem eram essas novas pessoas. Os comerciantes simples, condutores de bonde e supervisores de obras que imaginei conhecer estavam agora fazendo os judeus ajoelharem a seus pés…”

Nos livros de história, biografia e essas coisas você passa a ver tudo muito no preto e branco. Tudo muito simplista. 1ª guerra mundial, decadência da Alemanha, ascensão de Hitler, perseguição aos judeus, holocausto, derrota da Alemanha. Porém nessa sincronia toda esquecemos de ver, ou até mesmo preferimos não pensar que existiam vidas ali no meio. Pessoas comuns que tentavam viver uma vida comum. E isso vem bem claro no livro. Eva que era uma garota na época, ansiava por coisas simples…

Ainda me lembro que senti muita inveja em saber que Anne havia ido à festa de aniversário d Susanne… éramos simplesmente garotos e garotas, com as mesmas preocupações, aspirações, amizades e rivalidades.

Outra coisa que sempre me perguntei durante meus estudos sobre esse período da história, era como as pessoas deixaram isso acontecer e o livro traz bastante essa percepção de Eva, que todo o mal que ocorreu não estava somente em um homem. Sim Hitler foi culpado, mas não sozinho.

Nos anos que antecederam o Anschuluss, todos os principais partidos políticos fizeram declarações antissemitas em seus manifestos, e até mesmo o governo Dollfuss-Schuschnigg, que supostamente os defendia, contava com muitos antissemitas em seu gabinete.

Havia pessoas que ajudavam as famílias judias a se esconderem por bondade e boa vontade, ou porque os pastores das igrejas pediam que fizessem o que a consciência lhes impunha, mas também hhavia pessoas que ofereciam abrigo aos judeus apenas por dinheiro. Assim como havia pessoas que se faziam de cegas ao suspeitarem que você fosse judeu. Havia também pessoas que o denunciavam para receber florins holandeses.

Nunca se sabia quem estava realmente do seu lado, quem o trairia ou mesmo quem poderia ser um dos temíveis “caçadores de judeus”.

Acho que a parte que mais me chocou nesse livro, que eu realmente parei e pensei “não é possível algo desse tipo ter acontecido!”

Por fim, eles me pegaram e me jogaram em um cômodo com outros prisioneiros cujos também estavam feridos e sangrando. Passei o dia todo sentada ali, o dia do meu aniversário, sem comida ou água, ouvindo as pessoas sendo torturadas na sala de interrogatório ao lado.

Eva estava com 15 anos quando aconteceu isso. Não vou nem pedir pra vocês imaginarem qual deve ter sido a sensação dela nesse momento. Isso é algo que não tem como imaginar. Não dá pra imaginar como foi sentir medo a cada instante do dia, a cada barulho, a cada tarefa simples em um dia.

Estávamos em Westerbork há apenas dois dias quando recebemos a temida notícia: nossos nomes estavam na lista do próximo transporte.

… fui levada para uma sala enorme com tubulações e chuveiros. Quando a porta foi fechada, todas nós começamos a tremer. Meu coração batia disparado enquanto eu me perguntava se aquilo era mesmo um chuveiro.

Não sei se é possível falar que algo que aconteceu dentro de toda essa brutalidade foi pior do que outra, mas algo que achei desumano (como se tudo que aconteceu não fosse…) foi o fato de os próprios prisioneiros serem obrigado a lidar com o corpo de seus companheiros. A busca implacável dos soldados atrás de “tesouros” dos judeus, fez com que uma área fosse reservada somente para separar roupas, sapatos, quiçá jóias, mas o que mais era encontrado nesse meio não passava de fotos de famílias, roupas de criança, entre outros.

Você vê pelos olhos de uma prisioneira o que aconteceu ali dentro. Como as pessoas se agarravam a qualquer chance de sobreviver, mas às vezes não conseguia.

Carregar o cadáver das mulheres que eu tinha conhecido – e conhecia bem – foi a pior coisa que já tive de fazer. Pude sentir enquanto as segurava, que elas tinham morrido aos poucos, ficando a cada dia mais fracas, e quando olhava para os seus olhos abertos e fixos, e para suas bocas escancaradas, sabia que elas tinham aguentado por muito tempo – e com muita esperança – quase até o final.

Algo novo que eu não tinha conhecimento até então, foi a recusa de alguns países a ajudarem no início do Holocausto. Muitos desses “aliados” são pintados como verdadeiros heróis, que acabaram com a guerra, mas muito do que não foi feito, não foi colocado nos livros. Um exemplo disso é que os britânicos e os americanos sabiam desde 1943 sobre as câmaras de gás, mas se recusaram a ajudar e a bombardear Auschwitz em 1944. O povo britânico tinha “medo” de uma “inundação de refugiados” que provavelmente se dirigiriam para a Palestina, que era protetorado britânico na época, ou seja, os interesses políticos foram mais importantes do que a vida das pessoas que sofriam ali.

Desde o final da guerra, muitas histórias sobre o papel e sobre os atos das Forças Aliadas surgiram. Algumas delas defendem a ideia de que um lado era “bom” e o outro “mal”, e talvez com razão…

O que se sabe com certeza é que ganhar a guerra e manter uma política forte de anti-imigração foram as prioridades dos aliados – não a iniciativa de ajudar os judeus.

Por muita insistência, sorte e claro, ajuda divina, Eva e sua mãe conseguiram sobreviver a este terror, mas nada que elas fizessem poderia apagar os absurdos sofridos por elas.

Eu estava viva, mas teria que reaprender a viver e a encontrar o meu lugar em um mundo que muitas vezes não queria saber dos horrores que eu tinha presenciado.

Todos os meus novos amigos eram judeus. Nunca demonstramos nenhum sentimento sincero de solidariedade uns com os outros, mas instintivamente queríamos permanecer juntos.

Cresci no que estava longe de ser um mundo maravilhoso, mas ainda encontrei uma vida cheia de alegria e amor, e o meu pesar mais profundo é que Pappy e Heinz não puderam compartilhar comigo isso.

Avaliando todo o livro e toda a situação que ocorreu e foi narrada neste, algo que eu sempre suscitei sobre esse assunto e por vezes fui criticado é que todo o Holocausto não foi culpa de um homem só, no caso Hitler. Poderia escrever inúmeros posts descrevendo pessoas piores que o Füher e Eva comenta isso. Ela deixa claro que não foi so o Nazismo o culpado e sim a natureza humana.

Minhas experiências revelaram que as pessoas têm uma capacidade única para a crueldade, brutalidade e completa indiferença aos sentimentos humanos.

Outro detalhe que é uma verdade até hoje, é o preconceito. Ainda hoje se vê isso contra outros povos, mais conhecido como xenofobia. Enfim, o livro é excelente! A narração leva o leitor a refletir sobre toda a crueldade através de uma visão em primeira pessoa, de uma pessoa que realmente “participou” das atrocidades. Recomendo que vocês leiam após esse o livro O piloto de Hitler pra vocês verem as diferenças que existiam entre quem sofria e quem participava do Nazismo. Finalizo essa resenha com uma frase de Eva:

Como iríamos descobrir, o final da guerra não foi o fim do preconceito. Longe disso.

Até a próxima =]