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Resenha: Cartas Extraordinárias – Shaun Usher
Editora: Companhia das Letras
Autor: Shaun Usher
ASIN: 9788535925111
Edição: 1
Número de páginas: 368
Acabamento: Brochura
Classificação EDS: 100 de 100 pontos
Compre: Amazon
Uma maravilhosa seleção das cartas mais divertidas, inspiradoras e inesperadas, escritas por personagens notáveis. Do comovente bilhete suicida de Virginia Woolf à receita que a rainha Elizabeth II enviou ao presidente americano Eisenhower; do pedido especial que Fidel Castro, aos catorze anos, faz a Franklin D. Roosevelt à carta em que Gandhi suplica a Hitler que tenha calma; e da bela carta em que Iggy Pop dá conselhos a uma fã atormentada ao genial pedido de emprego de Leonardo da Vinci – Cartas extraordinárias é uma celebração do poder da correspondência escrita, que captura o humor, a seriedade e o brilhantismo que fazem parte da vida de todos nós. Esta coletânea de mais de 125 cartas oferece um olhar inédito sobre os eventos e as pessoas notáveis da nossa história. O livro reproduz a maior parte dos fac-símiles das missivas, com sua transcrição e uma breve contextualização, além de ser ricamente ilustrado com fotografias e documentos. A engenhosa organização de Shaun Usher cria uma experiência de leitura que proporciona muitas descobertas, e cada nova página traz uma bela surpresa para o leitor. Não apenas um deleite literário, mas também um livro-presente inesquecível. Inclui cartas de: Zelda Fitzgerald, Dostoiévski, Amelia Earhart, Charles Darwin, Albert Einstein, Elvis Presley, Dorothy Parker, John F. Kennedy, Charles Dickens, Katharine Hepburn, Mick Jagger, Steve Martin, Emily Dickinson e muito mais.
Minhas impressões
Ler Cartas Extraordinárias organizado por Shaun Usher é algo bastante singular, primeiro pelo fato de que ler correspondência alheia sempre tem um toque meio voyeur, afinal aquelas palavras não foram escritas para que você lesse e depois porque o contexto histórico em que foram escritas tomam outra conotação em nossa privilegiada posição de leitores do futuro.
Fiz a leitura de maneira aleatória, livre e sem seguir a sequência do livro procurando primeiramente as de emissários e destinatários mais conhecidos historicamente. Foi um passeio marcante e impressionante, a descoberta de uma carta leva a necessidade da leitura de “mais uma” e quando menos esperei, o livro acabou e deixou o desejo de “quero mais” que faz justiça a nota do The Sunday Times estampada na capa “O Equivalente Literário a uma Caixa de Chocolates”.
Várias missivas me emocionaram profundamente e não consegui ficar impassível diante de histórias de guerra, declarações dilacerantes de amores ímpares, sentimentos de fraternidade e de eminência histórica imbuídas numa vontade de alertar emissores e destinatários sobre o desdobramento daquela carta, “É uma cilada, Bino”.
É evidente que hoje a maior defesa da incrível quantidade de mensagens escritas e trocadas pelas pessoas através dos smartphones e emails é a rapidez com que tudo acontece, e isso é ótimo, sinal dos tempos e não tem volta, mas fico me questionando sobre a permanência das cartas escritas ou até digitadas, enviadas pelos Correios e toda aquela aura de ansiedade que as envolvia.
O livro apresenta esse saudosismo de forma muito bonita, boa parte das cartas tem a reprodução da original e a força do lido dobra porque observamos a caligrafia, o papel e a força de cada uma delas.
A escolha das 125 cartas apresentadas é fruto de pesquisa que durou quatro anos e tem muito de uma determinada cultura e visão de mundo, algumas são um tanto anônimas e com pouco significado histórico imediato, mas uma pesquisa simples pode levar ao esclarecimento e talvez nem seja algo necessário para compreensão do todo, pois além do fac-símile, temos a transcrição da carta e ainda um pequeno texto contextualizando a missiva num trabalho super caprichado e elucidativo.
Se eu tentasse lhe dar algum conselho específico, seria algo como um cego guiando outro…
E essa é realmente a questão: boiar ao sabor da corrente ou nadar para alcançar um objetivo? Essa é uma escolha que, consciente ou inconsciente, todos nós temos de fazer alguma vez na vida…
Cada pessoa é a soma total das próprias reações às várias experiências. Na medida em que as suas experiências se diversificam e se multiplicam, você se torna outro homem, e, portanto, sua perspectiva muda. É sempre assim. Toda reação é um processo de aprendizagem; toda experiência significativa altera sua perspectiva.Da carta 021, de Hunter S. Thompson para Hume Logan respondendo ao pedido de conselho solicitado pelo amigo. Foi intitulada como “É preciso ser alguém: é preciso ter importância.
Apenas alguns poucos exemplos das minhas preferidas:
“Um grande erro de Einstein” – De Albert Einstein para o presidente dos Estados Unidos Franklin D. Roosevelt – que tece sobre realmente ser possível a utilização de urânio como nova e importante fonte de energia.
“A morte mais bela” – De Laura Huxley para Julian e Juliette Huxley – relatando a inquietação sobre sua opção de ministrar LSD Adous Huxley na tentativa de ajudar o autor, seu marido, diagnosticado com câncer na laringe e em seus últimos dias de vida.
“Não chores por mim” – De Fiódor Dostoiévski para seu irmão Mikhail Dostoiévski logo após ser salvo de um pelotão de fuzilamento e enviado para a prisão.
“Os filmes da Pixar nunca terminam, só são lançados” – de Pete Docter para Adam – o rapaz escreveu pedindo uma foto autografada e recebeu, meses depois, uma carta ilustrada e com um toque de humor e atenção que defino como absolutamente “fofo”.
“Trabalhe” – de Sol Lewitt para Eva Hesse – bela e inspiradora carta sobre a necessidade de continuar trabalhando e investindo, apesar do bloqueio de criatividade e questionamento de Hesse sobre o próprio talento.
Indico a leitura e, além disso, o livro é definitivamente um daqueles presentes para quem está em dúvida sobre o tipo de obra que o presenteado irá gostar, a edição da Companhia das Letras está caprichada, seu tamanho é diferente do usual, o volume é pesado e todo bonito. É irresistível!