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Resenha: A Memória de Todos Nós – Eric Nepomuceno

Editora: Record
Autor: Eric Nepomuceno
ISBN: 9788501103239
Edição: 3
Número de páginas: 192
Acabamento: Brochura
Classificação EDS:  100 de 100 pontos

As últimas décadas da América Latina por um dos maiores jornalistas do país e tradutor de García Márquez e Cortázar.
Eric Nepomuceno traz histórias passadas na Argentina, no Chile e no Uruguai, representativas do longo e tenebroso período que a América Latina viveu entre 1954 e 1990. São narrativas acerca da trajetória de alguns personagens marcantes, não por serem únicos, mas por resgatarem exemplos do que aconteceu em todas as outras nações que viveram o mesmo pesadelo.

Minhas Impressões

Estamos vivendo um momento histórico de alerta no tocante a todas as conquistas sociais, políticas e econômicas dos últimos anos. Nossa Democracia é jovem e por isso tem presenciado a herança cultural brasileira em que estão arraigadas a corrupção, o desprezo às classes menos favorecidas, o pouco investimento na Educação e por aí vai, mas o amadurecimento de um povo perpassa pelo entendimento real de nosso passado.

A Memória de Todos Nós é um livro cortante sobre uma das verdades para as quais precisamos despertar e não esquecer, o período em que vivemos sob o regime ditatorial.

Em meados de 1976, por mais incrível que pareça, somente dois países da América do Sul, Venezuela e Colômbia, estavam vivendo regimes de governo constitucionais, os demais seguiam sob longas e tenebrosas ditaduras.

A obra vai discorrer sobre algumas peculiaridades e semelhanças entre as ditaduras dos governos sul-americanos e como, passada a escuridão, cada um enfrentou ou enfrenta as heranças deixadas. Foram instituídas Comissões da Verdade que provocaram e trouxeram à tona verdades ocultas, mas que continuam a esbarrar num sem número de dificuldades no sentido de punições ou ressarcimentos.

Citando Leonardo Boff: ‘Acho importante o resgate da memória porque a memória é subversiva. E uma das coisas que ocorreram em nosso país com mais peso foi o ato de apagar a memória dos vencidos – dos escravos, dos indígenas.’

São muitos os interesses para a manutenção de uma memória anestesiada. Vários setores ganharam dinheiro durante o período da ditadura e reviver certos pontos traria à tona questionamentos para alguns empresários, fazendeiros e até proprietários de meios de comunicação.

As ditaduras e suas histórias de horror são cruéis, mas o requinte assustador das histórias dos bebês de militantes assassinadas que foram roubados e entregues a militares para serem criadas por famílias ideologicamente puras são de arrepiar.

Lá estava o detalhado, tenebroso inventário de horrores. Lá estava a história de prisões ilegais, roubos, seqüestros, assassinatos, desaparecimentos. E lá estava também a história dos bebês de militantes assassinadas e que haviam sido roubados por policiais e militares e criados sem saber quem era, sem ter a própria verdade.

O diferencial da obra na minha leitura foram algumas passagens em que o autor narra a busca pelos desaparecidos e, em especial, para alguns que foram encontrados pelo trabalho incansável da Associação das Avós da Praça de Maio. São esforços hercúleos para descobrir a mínima pista do paradeiro dos que tiveram suas vidas e memórias roubadas.

Vale a leitura e trazendo para 2015, observamos os defensores do retorno de uma ditadura civil-militar e avaliamos essa questão como um desaviso, falta de conhecimento histórico e ainda de clareza sobre possibilidades de enfrentarmos coletiva e democraticamente a insatisfação com o momento atual.