Ícone do site Estante dos Sonhos

Resenha: Cidade em Chamas – Garth Risk Hallberg

Editora: Companhia das Letras
Autor: Garth Risk Hallberg
ISBN: 9788535927047
Edição: 1
Número de páginas: 1048
Acabamento: Brochura
Classificação EDS: 100 de 100 pontos
Compre: Amazon

Nova York, 1976. O sonho hippie acabou, e dos escombros surge uma nova cultura urbana. Saem as mensagens de paz e amor e as camisetas tingidas, entram as guitarras desafinadas, os acordes raivosos e os coturnos caindo aos pedaços. Por toda a cidade brotam galerias de arte e casas de show esfumaçadas. É nesse cenário que Garth Risk Hallberg situa esta obra colossal, aclamada pela crítica como uma das grandes estreias literárias de nosso tempo.
Regan e William são irmãos e herdeiros de uma grande fortuna. Ela, uma legítima Hamilton-Sweeney e eternamente preocupada com o futuro da família, vê seu casamento desmoronar em meio às infidelidades do marido. Ele, a ovelha negra, fundador de uma mitológica banda punk, artista plástico recluso e figura lendária das artes nova-iorquinas. Ao redor dos dois gira uma constelação de tipos e acasos. A jovem fotógrafa que descobre um influente movimento musical pelas ruas da cidade. O jovem professor negro e gay que chega do interior e se apaixona pelo misterioso artista. O grupo de ativistas que pode ou não estar levando longe demais o sonho de derrubar o establishment. O garoto careta e asmático que se apaixona pela punk indomável. O repórter que sonha ser o novo nome do jornalismo literário americano. E, em meio a tudo isso, um crime que vai cruzar suas vidas de forma imprevisível e irremediável.
Combinando o ritmo de um thriller ao escopo dos grandes épicos da literatura, Garth Risk Hallberg constrói um meticuloso retrato de uma metrópole em transformação. Dos altos salões do poder às ruelas do subúrbio, ele captura a explosão social e artística que definiu uma década e transformou o mundo para sempre. Cidade em chamas é um romance inesquecível sobre amor, traição e perdão, sobre arte e punk rock. Sobre pessoas que precisam umas das outras para sobreviver. E sobre o que faz a vida valer a pena.

Minhas impressões

O primeiro lugar que ouvi falar sobre este livro foi no Risca Faca, vou mostrar o link somente no final da resenha, pois se vocês lerem a resenha deles, vão acabar achando a minha horrível rs (quando eu crescer quero escrever como eles =] )

Cidade em Chamas é uma obra memorável, é uma frase que pode definir bem o que o livro entrega. Eu não tinha ouvido falar do Garth Risk Hallberg e dificilmente eu arrisco ler um livro tão grande assim de um autor desconhecido. Não por preguiça, mais (é mais mesmo viu gente, do advérbio de intensidade) por achar que isso vai acabar atrasando as resenhas aqui, mas enfim, acabei comprando o livro digital, pois levar quase dois quilos a mais na mochila não ia rolar.

O livro no início assusta um pouco, pois ele começa já intercalando personagens com tramas diferentes. Quando você pensa que o autor vai se prender àquele personagem, ele muda o rumo para outro personagem e até mesmo outra época. Assusta só no início mesmo, pois você se vê preso às tramas diferentes, e fica puto (no meu caso) quando a trama tá se desenrolando e pá! Muda o personagem. Pra quem escreve, isso é uma técnica muito comum pra dar dinâmica ao livro e o autor conseguiu fazer isso muito bem. Ele faz de uma forma intrincada usando como pano de fundo Nova York. Em todos os personagens você vai perceber uma ligação com a cidade e uma personalidade diferente causada por ela.

Do quem?” A voz dela estava extrarrouca por causa do vômito. No futuro, ela estava dizendo, eles iam ter um monte de tecnologia, e ninguém ia perceber que estava sozinho, porque essa ia ser a situação de todo mundo, a vida toda. Só uma pessoa ia conhecer o segredo.

Nova York é o cerne dos acontecimentos. Pra quem mora numa grande cidade, como no meu caso em São Paulo, vai entender o que vou comentar.
Uma cidade grande tem um ecossistema próprio, uma vida própria. A cidade mesmo deserta está sempre em mudança. Não digo política ou social, mas em mudança de si mesma. Sempre que você passa um tempo longe e volta vê que ela evoluiu, novamente, não no sentido de evoluir para melhor, mas sim de mudar para algo diferente e Nova York sendo uma das maiores metrópoles “sofre” com isso há muito tempo.

Por toda uma rua que cruzava com aquela, as luzes da Times Square brilhavam frias e desumanas. Era surpreendente a velocidade com que ela esvaziava depois que desligavam as câmeras. A neve ia ser soprada pelo vento e revelar trepadeiras escalando casas, pumas espreitando a entrada do metrô. Não uma ordem natural das coisas, mas o caos: crianças se rebelando contra os pais, carros caindo em buracos na rua. Distritos comerciais vazios, bairros dominados. Indigentes encolhidos em becos, erguendo os olhos de guaxinins para a varredura dos faróis dos carros que passavam, putas apertadas, rostos maculados de sangue. E, por baixo disso tudo, um estado ecoante – o som que ela agora percebia que tinha ouvido também, lá em cima na sacada, de uma arma disparando.

Vou citar os personagens aqui por saber que não vai mudar nada a vida de vocês. Vocês vão conhecer nesta obra Charlie, um adolescente condescendente que acaba conhecendo a Sam, que é o oposto dele. Só essa interação já garante o interesse do leitor. Temos também a Regan e o Keith, um casal aparentemente modelo que são obrigados a resolver um problema. Por fim William e Mercer que é melhor eu não comentar pra não estragar.

O que constituía mais uma coisa que Regan não sabia sobre ele no outono passado ele tinha começado a fumar, um lembrete da licenciosidade, do caos que persistia por sob a ordem superficial da sua vida.

Todos eles tem uma relação única com Nova York, desde o Mercer que saiu de uma cidade pequena com o sonho de ser alguém na cidade grande, até a Sam que conhecia os becos da cidade tão bem. Por trás de alguns personagens há a cena Punk, que era fortíssima na época junto com a sensação de anarquia daqueles tempos.

Olhe em volta. É o fim de semana, e como a gente expressa a nossa insatisfação com o sistema? A gente vai pra um restaurante e resmunga tomando vinho com a tampa de rosquinha. A gente se transforma numa burguesia-reserva, caso alguma coisa aconteça com a de verdade. Escolha não é a mesma coisa que liberdade – não quando outros estão preparando as escolhas pra você

Há no livro algumas “cartas”. Ficam entre os capítulos e trazem histórias e situações dos personagens, basicamente um spin off da trama principal. Eles parecem desconexos enquanto você vai lendo o livro, mas no final, quando você tem tempo de digerir tudo e vai se lembrando das cartas, as coisas vão se encaixando e você percebe a grandeza de tudo aquilo. Em uma das resenhas que vi sobre o livro, recomendaram ler as cartas antes do livro e por um lado realmente é uma boa recomendação, porém, há a possibilidade de você tomar um spoiler.

Porque se cada momento de uma vida está presente em todos os outros, então quem também está são todos os outros eus que você tentou deixar para trás. E aí como saber – se o eu atual sempre parecia tão tênue, de alguma maneira, em comparação com aquele tão agudamente, vivo sob a mesa da cozinha – qual de você, especificamente, existe de verdade?

Não sei se foi pelo fato do nome da personagem ser Sam que eu associei automaticamente a Emma Watson à ela (Sam é o mesmo nome do personagem que ela fez em The Perks of Being a Wallflower) e sinceramente ela faria muito bem esse papel. Ao final do livro eu percebi que não deveria ter feito essa associação e não direi o motivo =]

…mas na verdade a Sam sempre foi uma ameaça. Ela tomava posse de tudo.

Pois bem. Essa obra deve ser lida e guardada em uma caixa de vidro junto com outros clássicos para que a posteridade possa ler. Confesso que não gostei do final logo de cara. Senti que ele foi muito abrupto, porém depois de umas semanas relembrando o livro aquele final foi se ajustando e mostrando todo o significado da obra. Recomendo cada uma das mil e tantas páginas do livro.

Até a próxima.

Ah sim, o link para a resenha do Risca Faca é esse aqui.