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Resenha: Primeiro amor – Ivan Turguêniev

Editora: L&PM
Autor: Ivan Turguêniev
ISBN: 9788525415042
Edição: 1
Número de páginas: 114
Acabamento: Brochura
Classificação EDS: 100 de 100 pontos
Compre: Amazon

O primeiro amor, esse sentimento avassalador e intoxicante, que paralisa e faz sofrer, se desdobra, nas mãos de Ivan Turguêniev (1818-1883), em infinitas histórias que na verdade são uma só: a história de um amor platônico. O grande autor russo abraça esse sentimento universal como ninguém e cria um dos seus mais festejados livros.
Vladimir Petróvitch, um garoto de 16 anos, cai de amores pela vizinha, Zinaída Alexándrovna, de 21 anos, filha de princesa e dona de uma beleza arrebatadora. Mas o destino de amores platônicos todos sabem qual é… E Turguêniev, na sua genialidade, soube ir além. Publicado em 1860, Primeiro amor reflete todo o lirismo e o frescor da primeira vez que o coração acelera por alguém.

Minhas impressões

Primeiro Amor é um livro daqueles que achamos fofos no melhor sentido da palavra porque é impossível durante sua leitura não rememorar o “nosso” primeiro amor e toda a carga de ingenuidade e urgência nele contido.

Superada a surpresa do resgate de nossa história de amor passamos a nos divertir com as venturas e desventuras do adolescente Vladimir Petróvitch a partir do momento em que ele deixa de ser um menino e passa a respirar em função da jovem e bela vizinha Zinaida, moça de um encanto sedutor, que vai brincar com o sentimento de nosso pequeno herói e obrigá-lo a fazer e viver coisas que até então seriam impossíveis.

Minha “paixão” teve início naquele dia. Lembro que senti, então, algo semelhante ao que deve sentir um homem que vai ao trabalho pela primeira vez: eu já deixara de ser um menino; estava apaixonado.

Para uma obra publicada em 1860 fiquei impressionada com a apresentação de algumas situações tão atuais como a superproteção da mãe, a ausência de um diálogo verdadeiro com o filho adolescente e a falta de sensibilidade frente a sua inquietação juvenil. Uma questão interessante é a relação com o pai, que se mantinha distante da rotina do filho, mas exercendo um grande fascínio diante de sua imponência e “perfeição”.

Papai exercia uma influência estranha sobre mim – e também eram estranhas nossas relações. Ele quase não cuidava da minha educação, mas nunca me dizia palavras rudes; respeitava minha liberdade. Se posso me expressar assim, ele chegava a ser gentil comigo…Apenas não admitia que eu me pusesse no mesmo nível que ele. Eu o amava, eu o adorava, ele me parecia o modelo de perfeição

O jogo de sedução que se faz em torno de Zinaida não me cativou muito porque me pareceram carregadas e a subserviência dos rapazes um tanto de exagerada, ou seria apenas reflexo do poder de sedução da moça para com os jovens enamorados? De qualquer modo, algumas passagens da competição são hilárias.

Petróvitch fica imerso e totalmente rendido ao amor da moça que vai do idealizado ao real em poucos instantes e vice-versa, não entende suas reações, a decadência da família dela, suas estratégias e perde, naturalmente, o controle da situação a respeito de algo que o domina e atordoa completamente.

Nas mãos de Zinaida eu era como cera mole. De resto eu não era o único apaixonado por ela: todos os homens que visitavam sua casa estavam loucos por Zinaida – ela trazia todos presos pela coleira, a seus pés.

Talvez de maneira inconsciente e pensando na próxima Copa do Mundo de Futebol ou nos grandes livros de Dostoievski que ainda não li e que me desafiam quando encaro a estante, tenho mergulhado na Literatura Russa e acompanho com curiosidade as narrativas ambientadas nas ruas e arredores de São Petersburgo, Omsk, Rostov, etc. e em Primeiro Amor temos uma narrativa vivenciada nas proximidades de Moscou, na casa de verão da família do adolescente, que conta características muito próprias e interessantes do território contribuindo com o aumento do meu imaginário acerca da Rússia.

É importante ressaltar a leveza com que o autor conta a história usando a primeira pessoa, diálogos simples e diretos, algo que torna a leitura dos “temidos russos” muito mais acessível e convidativa o que talvez tenha sido um dos motivos pelos quais o autor foi o primeiro escritor russo a ser traduzido na Europa.

O livro é curtinho e sua leitura engraçada, leve e ativadora de memórias afetivas! Vale!