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A mente de Adolf Hitler – Walter C. Langer

Editora: Leya
Autor: Walter C. Langer
ASIN: B07FFD9TXC
Edição: 1
Número de páginas: 272
Acabamento: Ebook
Classificação EDS: 100 de 100 pontos
Compre: Amazon

Em 1943, com o intuito de fornecer aos estrategistas militares norte-americanos um perfil que pudesse contribuir para a derrota nazista na Segunda Guerra Mundial, o psicanalista Walter C. Langer foi imbuído da missão de decifrar um enigma chamado Adolf Hitler. O resultado foi A mente de Adolf Hitler que, publicada originalmente enquanto o conflito ainda estava em curso, é uma obra única por se tratar de uma biografia psicológica construída a partir de entrevistas com pessoas que conviveram com o líder nazista. Muito já foi escrito sobre a vida do Führer, mas poucos estudiosos se dedicaram a entender tão a fundo seus padrões de comportamento e modos de pensar quanto Langer. A mente de Adolf Hitler é um fascinante documento histórico e peça fundamental para a compreensão do século XX.
https://www.estantedossonhos.com.br/wp-content/uploads/2021/05/amentedehitler.mp3
Ouça esta resenha! #pracegover

Minhas Impressões

A guerra psicológica é tão velha quanto a própria Guerra. Desde quando a humanidade começou a cobiçar a grama mais verde do vizinho, que criou-se a tática de desmoralizar o inimigo, aterrorizá-lo, diminuí-lo, e por aí vai. A Arte da Guerra, livro milenar com táticas de Sun Tzu, já ensinava táticas do tipo.

A psique das massas não reage a nada que seja fraco ou pela metade. Tal como uma mulher, cuja sensibilidade espiritual é determinada menos pela razão abstrata do que por um desejo emocional indefinível de alcançar poder, e que, por essa razão, prefere se submeter ao homem forte, e não ao fraco, a massa também prefere quem dá ordens, e não quem implora.

Vimos isso na Primeira Grande Guerra Mundial, com o terror do gás mostarda, aliados vendo centenas e centenas de soldados mortos em questão de minutos e até mesmo dias. Nesse link, o Cardoso do Meio Bit e Contraditórium, trás mais alguns exemplos sobre guerra psicológica usada pelos EUA.

Toda essa introdução para explicar o interesse dos Governos, liderado por estudos americanos, para entender a figura de Hitler. Sua ascensão, vertiginosa ao poder, o arrebanhamento da massa, a crença cega no Füher, foram pontos que alertaram os outros países que era importantíssimo compreender essa pessoa e usar seus defeitos contra ele mesmo, quebrando de dentro para fora, a máquina de guerra do inimigo.

Em qualquer discurso, artigo ou discussão acirrada, a pessoa que comparar um adversário ou seus argumentos com Hitler ou com o nazismo perderá a razão e será considerada a perdedora.

A guerra psicológica na Segunda Guerra Mundial teve ideias válidas, como retratado neste livro, e ideias absurdas, como no caso da sugestão de um general de colocar estrogênio secretamente nas bebidas de Hitler, para torná-lo mais afeminado e com isso, mais “dócil”… Ou então sugestões equivocadas, como os panfletos sugerindo que os Japoneses se rendessem, algo que é totalmente absurdo na cultura deles.

Sou apaixonado por história, mas péssimo com datas, portanto relevem se eu trocar as ordens.

…nenhum poder terrestre pode deter uma ideia cuja hora tenha chegado…

Como o acesso ao füher era restrito, e naquela época o sinal de celular era pior que o da TIM nos dias de hoje (ironia), não havia material disponível para estudo da personalidade de alguém. Não existia redes sociais para rastrear uma pessoa, portando a opção era analisar quem tinha relacionamento direto e os materiais públicos da época.

Um material raríssimo usado para estudo, foi uma entrevista concedida por Hitler em 1923, nas referências bibliográficas do livro tem o link para essa entrevista. Esta, foi concedida próximo de sua tentativa de golpe e de sua ascensão ao poder. Por si só a entrevista é conteúdo para estudos psicológicos até hoje.

Hannah Arendt conclui que regimes brutalmente totalitários como o nazismo e o stalinismo produzem “agentes irreflexivos” ou “pessoas incapazes de pensar do ponto de vista de outra”. É gente assim que faria o mal sem ser pessoalmente mau.

Walter Langer, que hoje em dia seria considerado um psicólogo forense, era um psicólogo renomado com a incumbência de uma missão secreta ordenada pela OSS, predecessora da CIA: gerar o perfil psicológico de Adolf Hitler. O relatório em si é baseado no relatório final apresentado por Langer.

Magnificamente estruturado, trás cronologicamente as análises da vida de Hitler. Desmistificando mitos, revelando comportamentos nocivos, sim, além do comportamento de querer matar todo mundo, Hitler tinha outros problemas.

Foi fundamental a imposição, tanto na Rússia quanto na Alemanha, do conceito de “Führerprinzip”, o guia sábio, salvador da pátria, infalível, incontrastável, cuja palavra paira acima de qualquer lei escrita, tradição ou costume. Lênin, Trótski e Hitler falavam às massas como os únicos intérpretes da verdade revelada.

Um dos mitos desmistificados é o de que Hitler seria um gênio da retórica, que conquistava multidões com seus discursos acalorados, incitando a nação e etc… Ele não era um gênio, muito dessa fama se deve a Goebels, este sim, um gênio do marketing.

Há pouco espaço num cérebro, ou, por assim dizer, pouco espaço de parede, e, se você mobiliá- lo com seus slogans, a oposição não terá lugar para pendurar seus quadros, porque o aposento do cérebro já estará abarrotado com sua mobília.

Hitler podia ser considerado um prodígio em interpretar o sentimento de sua audiência, de entender, conforme ia falando, o que sua audiência queria ouvir. Fora isso, seus discursos era comuns. O autor comenta em diversos pontos, sobre situações e eventos onde Hitler abandona o palco quando não teve a resposta esperada da audiência. Isso mostra sua insegurança, e brevemente explica toda a agressividade.

Porém para compreender melhor como tudo culminou no desastre que foi o nazismo, o autor mergulhou mais fundo, chegando a colher relatos de pessoas que conviveram com Hitler quando ele era jovem.

Portanto, não era tanto o que ele dizia que era atrativo para suas plateias, mas como ele dizia.

Por ser basicamente um livro de história, nada que eu diga aqui seria spoiler, ok? De qualquer forma não pretendo reescrever o livro todo aqui.

Rauschning relata que o Partido adotou o seguinte credo: “Todos nós acreditamos, nesta terra, em Adolf Hitler, nosso Führer, e reconhecemos que o Nacional Socialismo é a única fé que pode trazer a salvação ao nosso país.”

Perguntas que sempre me fiz, foram respondidas neste estudo, por exemplo: Por que ele amava tanto a Alemanha, sendo ele Austríaco? A resposta resumida é uma mistura de descontentamento com o pai e um oportunismo do exército Alemão em aceitar um austríaco, abaixo da estatura e bem abaixo do perfil de um soldado do exército.

Ele é amorfo, quase sem rosto, um homem cujo semblante é uma caricatura, um homem cuja estrutura parece cartilaginosa, sem ossos. Ele é insignificante e volúvel, inadequado e inseguro. É o próprio protótipo do homenzinho.

Outra pergunta: De onde surgiu todo o ódio, toda ânsia de erradicar que era diferente dele? Novamente a resposta pode estar numa mágoa infantil pelo pai, unido aos fracassos na vida e nas recusas constantes de seu sonho em entrar nas escolas de arte de Viena.

Hitler acha que ninguém, na história alemã, estava tão preparado quanto ele para levar os alemães à posição de supremacia que todos os políticos alemães achavam que o povo merecia, mas foram incapazes de alcançar.

Enfim, poderia passar horas escrevendo aqui, relacionando os diversos livros e biografias que li sobre a segunda guerra. Todavia, nada se compara a ler esse livro com a estrutura e organização feita pelo autor. Ele mostra numa escala de visões, como Hitler se via, como seus colaboradores o viam e etc. De longe o livro mais revelador para mim sobre A mente de Adolf Hitler, seus defeitos, suas vantagens, até mesmo seus mais secretos desejos. Quem é mais velho de internet (e idade), vai entender a referência quando eu falar de: “Two girls and one cup”. Esse era o nível de perversão sexual que Hitler possuía. Jamais, e repito, jamais pesquise esse termo no Google, pelo bem da sua saúde mental.

Pelo tamanho da resenha, dá para ter noção que recomendo muito o livro, principalmente para dar uma visão um pouco melhor dos motivos da segunda grande guerra.

Já leu? Deixe seus comentários. Até mais =)

Photo by Stijn Swinnen on Unsplash